quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

A 15ª Conferência Nacional de Saúde e o cidadão cada vez mais próximo da gestão do SUS.




Prevista legalmente, a Conferência Nacional de Saúde, em sua 15ª edição realizada nos últimos dias 1º a 5 de dezembro, em Brasília, veio resgatar importâncias históricas, sobretudo, à premissa de ter sido este segmento o primeiro a realizar uma conferência nacional: a 1ª Conferência de Saúde, em 1941, e guardadas as conquistas sanitárias essenciais, a 8ª Conferência Nacional de Saúde, em 1986, esta última que alinhavou os principais nortes à criação do Sistema Único de Saúde (SUS).

Os debates que a 15ª CNS promoveu, buscaram de modo austero e caráter ativista referendar o SUS que tem sofrido nos últimos tempos um ataque intensivo, especialmente por conta dos retrocessos legais propostos no Congresso Nacional, tendo como instrumento maior e simbólico, a PEC nº 451/2014, de autoria do Deputado Eduardo Cunha, que visa obrigar a manutenção da saúde do povo brasileiro não mais pela universalidade, acesso e igualdade (princípios), contudo, somente aos empregados (detentores, nessa condição, de planos de saúde), ou àqueles que efetivamente deem conta de custear suas despesas em saúde.

Outro aspecto que entra na rota de colisão com o SUS é o chamado financiamento do Sistema, condição precípua para que a União, estados e municípios gerem efetivo atendimento às necessidades do povo brasileiro e garantam a eficácia do direito que preconizou a Constituição Federal em 1988. É fato que a acentuada diminuição de receitas, a crise internacional que impacta o Brasil e os efeitos de um acervo de conflitos políticos postos nos últimos dias, vestiu o SUS de subfinanciamento, e tudo isso acarreta na insuficiência de recursos para desenvolvimento e inovação em saúde e, obviamente, para garantir serviços essenciais postos e existentes no Sistema.

Ainda na 15ª CNS, os quase 3 mil delegados de todos os estados brasileiros, os milhares de convidados e participantes livres dos mais longínquos rincões do Brasil, puderam transversalizar a política (com propostas efetivas à reforma do sistema de representatividade nacional), a comunicação (margeando a discussão de uma mídia democrática e responsável que, entre outras urgências, apoie o SUS ao invés de somente tentar desconstruí-lo), o Judiciário (e a necessidade de novas parcerias institucionais que, republicanamente, promovam avanços congruentes com a modernidade advinda). Enfim, esta edição da Conferência de Saúde, não somente no protocolo prescrito no Art. 1ª da Lei nº 8.142/1999, foi capaz de envolver diretamente nos seus debates em quase 5 mil municípios, nos 27 estados da Federação (incluindo o DF), nas centenas de conferências livres e fóruns afins, cerca de 1 milhão de pessoas participantes, elaborando um acervo de diretrizes e propostas que chegaram na etapa nacional prontas ao amplo diálogo e celebração de consensos, nesta que já representa uma das principais festas da democracia sanitária da história do Brasil.

Ouvidorias do SUS

Cercadas de enorme desejo de intervenção junto à este espaço democrático: a 15ª CNS, as ouvidorias do SUS compreenderam que era importante ocupar um espaço no evento. Tática e estrategicamente, seus representantes nas mais de 1600 ouvidorias distribuídas em todo Brasil puderam participar, primeiramente quando da realização da I Conferência Livre das Ouvidorias do SUS, realizada no dia 19 de novembro, na Fiocruz, em Brasília, e a seguir, no próprio lócus da 15ª.

Na atividade do dia 19, integraram o colegiado, cerca de 160 ouvidorias municipais, estando também presentes ao menos 18 ouvidorias estaduais, que se debruçaram pelos eixos e o texto base da Conferência Nacional. Ao final, ficou aprovado um conjunto de propostas tangíveis ao fortalecimento das ouvidorias e do próprio SUS, proposições estas que compuseram um documento (relatório) final, cujo compêndio se destina na articulação para se incluir as ouvidorias no formato de participação e controle social. E neste mesmo evento foi aprovada uma Carta que tinha como destino os quase 5 mil participantes da 15ª CNS.

Já nos dias da própria 15ª, restou-se lançado o desafio dos 5 delegados e dos convidados exclusivos da luta pelas ouvidorias de, nos grupos do Eixo II (Participação Social) empreender esforços para aprovar as propostas que pudessem atender à estratégia das ouvidorias na gestão.
       Nos corredores e espaços comuns, ou mesmo na Plenária, o grupo articulou uma força tarefa para conseguir assinaturas suficientes na propositura de uma Moção de Apoio à aprovação no Congresso Nacional do Projeto de Lei nº 5.028/2013, que trata do tema “ouvidoria”. A estratégia usada foi sensibilizar os delegados por meio de um argumento pedagógico que explanasse a importância das ouvidorias no contato direto com os cidadãos e a entrega da Carta da I Conferência Livre das Ouvidorias, que difundiu o tema em todos os espaços da 15ª.

A vitória foi consagrada, primeiro pela enorme quantidade de signatários (1.022 delegados assinaram oficialmente a Moção), e pela aprovação quase unânime na grande Plenária do dia 4 de dezembro. Mas a maior conquista “foi fortalecer no imaginário das milhares de lideranças brasileiras, representadas tanto no segmentos da gestão, dos usuários, dos trabalhadores, quanto membros do controle social, a importância do tema ouvidoria para o apoiamento à gestão do SUS”, conforme afirma Eliana Pinto, Ouvidora-Geral do SUS, no Ministério da Saúde.

Veja abaixo o teor integral da Moção de Apoio aprovada na 15ª CNS, que será enviada à Câmara dos Deputados e comporá também o Documento Final da Conferência.
      
Moção de Apoio

Nós, Delegadas e Delegados da 15ª Conferência Nacional de Saúde, realizada nos dias 1º a 04 de dezembro de 2015, vimos defender a aprovação do Projeto de Lei nº 5.028/2013 (Substitutivo), que “Dispõe sobre diretrizes gerais para a organização administrativa do Sistema Nacional de Ouvidoria do Sistema Único de Saúde”, tramitando na Câmara dos Deputados.

Ora, é no espaço da Ouvidoria do SUS que, a partir da manifestação das pessoas não-organizadas, não-representadas, não-institucionalizadas, é produzido um acervo de intervenções com vistas a otimizar – estrategicamente – a gestão do SUS. Das demandas (solicitações, reclamações, sugestões, elogios etc.) das cidadãs e cidadãos, é possível confeccionar Relatórios de Gestão, aprimorar processos de trabalho, fomentar a transparência e o controle social e, sobretudo, estimular a democracia participativa, de forma a auxiliar a gestão no acerto cada vez mais eficiente e eficaz quanto à elaboração das políticas públicas em saúde.


Em síntese, as ouvidorias do SUS são instâncias de participação individualizada, ou seja, o ambiente mais próximo do sujeito. Sem a necessidade de constituir um advogado [como no Judiciário], de pleitear necessariamente a defesa do direito difuso [a partir do Ministério Público], de integrar os fóruns dos movimentos sociais e de entidades de classe [fato que congrega o Conselho de Saúde], ou mesmo estar na condição de – ou influenciador de – um agente público [gestora/gestor; trabalhadora/trabalhador] da Saúde, a ouvidoria permite à cidadã e ao cidadão diretamente opinar, propor, solicitar, criticar, fiscalizar a política, a administração e as necessidades da saúde pública brasileira.
































































































Fonte: Departamento de Ouvidoria Geral do SUS/DOGES.

Fotos: Daniel Araújo - Repórter Fotográfico.

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